segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

I couldn't feel my heart .

As gotas de chuva que caiam sobre a calçada por onde ela caminhava assemelhavam-se a lágrimas, como se lhe quisessem transmitir que ela não chora sozinha, que algures no mundo, alguém chora com ela.
Todos os dias, preenchia os seus passos com soluços de mágoa. Para ela, todos os homens que caminhavam por aquela triste rua, assemelhavam-se a pedaços de dor, pedaços de dor disfarçados por falsos sorrisos. E os corpos apagados nos quais ela embatia sem pedir desculpa, não notavam a sua presença, estavam submersos nos seus próprios pensamentos egoístas. E logo ai, apercebeu-se que esses meros corpos apagados, nem força têm para sustentar verdadeiros sorrisos sob os lábios. E o medo que lhe dominava a alma era, nesses dias, a força do vento que ela traçava nas ruas sem que ninguém os sentisse no rosto. O vento soprava-lhe constantemente incertezas ao ouvido e ela contava-lhe mais uma vez a sua história, num tom triste sem nunca ousar mencionar o nome daquele que traçou no seu rosto, lágrimas carregadas de dor. E, esperançosa, voltou a pedir ao vento que levasse do seu coração, aquele nome, delineado a carvão. A carvão negro, da cor da sua alma. E nem o vento, conseguiu destruir aquele nome, aquele nome que tem camuflado nas entrelinhas, uma grande história de amor. E o amor não se lê nas entrelinhas, nem tão pouco se extingue. Na verdade, o seu coração é um segredo. Um segredo selado a palavras que ninguém aprendeu a ler. A rua torna-se tão sombria que tudo se perde na noite. A escuridão fez-lhe relembrar as cartas de amor outrora escritas, as cartas de amor que não se escrevem mais sobre papel, escrevem-se sobre o peito sem que ninguém as ame, sem que sejam seladas com gestos de amor. E no final, essas cartas só servem para lhe cobrar as forças que já perdeu e para lhe ensinar que as palavras não são suficientes para salvar um coração que se cansou de sonhar. Ela era, então, mais um corpo sem luz, perdida entre o luar da noite e o sol do dia. A chuva traz na sua canção um tema de recordações que lhe assenta os pés na terra de uma forma triste e suave, porque na realidade não há mais passos para dar. Morreram as palavras. A vida morre também num canto ao fundo do coração que nenhum espelho consegue reflectir. Olhou para trás para se certificar que a dor não a seguia. Mas o que ela não sabia, é que a dor a perseguia lá dentro, nunca lá fora.  

Sem comentários:

Enviar um comentário